24 de mar. de 2011

Gelada nos Tópicos


Apesar de nós, brasileiros, nos considerarmos com frequência amantes incomparáveis de cerveja, a tradição não reforça esse mito. O Brasil entra tarde na história da bebida mais popular do mundo. Apesar de os colonizadores holandeses terem trazido a bebida em 1634, via Companhia das Índias Ocidentais, nenhuma cervejaria foi instalada em solo nacional. "Com a saída dos holandeses em 1654, a cerveja deixou o país por um século e meio e só reapareceu no fim do século 18", escreveu Sérgio de Paula Santos em Os Primórdios da Cerveja no Brasil. Dá para acreditar que nós fomos capazes de viver sem a bebida por 150 anos?
Antes da chegada da família real, em 1808, os portos brasileiros estavam fechados aos navios estrangeiros. Mas isso não significa que os portugueses estavam privados da bebida. A pouca cerveja que aparecia por aqui era contra bandeada. Com as importações liberadas, houve períodos de predominância dos barris ingleses e das garrafas alemãs. Embora não seja possível precisar uma data, registros mostram que imigrantes alemães do Rio Grande do Sul fabricavam a própria cerveja por volta de 1820.
O fato é que nossos avós e bisavós gostaram da bebida e passaram o costume para as gerações seguintes. Hoje, cada brasileiro consome cerca de 50 litros de cerveja "estupidamente gelada" por ano.
A birra em temperatura próxima a zero grau, motivo de orgulho em tantos botequins, é provavelmente a única contribuição genuinamente tupini-quim para a história da cerveja – e nem é reconhecida como um avanço. Se você sentar em um "biergarten" de Munique ou num pub de Londres, vai receber um copo com temperatura entre 10 ºC ou 15 ºC, faixa em que a maioria das cervejas revela o seu sabor. Para o calor tropical, essa é uma temperatura impensável, o que acabou originando o mito de que europeus são fãs de cerveja morna. Verdade ou não, fato é que criticar a cerveja alheia tem sido um ato recorrente na história. E um ótimo jeito de iniciar as conversas numa mesa de bar.